quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Imobilidade Urbana

Por Fabio Ramos


Nos grandes centros urbanos, quem nunca perdeu um compromisso – e a paciência também – por causa do trânsito? A cidade de São Paulo, por exemplo, é responsável por uma frota de mais de seis milhões de veículos (praticamente um para cada duas pessoas) e 800 carros novos são licenciados diariamente.

A indústria comemora as vendas do setor automotivo. Nossas vias saturadas, por outro lado, já não comportam tantos carros. Numa cena do filme Não Por Acaso, de Philippe Barcinski, um engenheiro da CET causa um engarrafamento que paralisa o tráfego da metrópole. A ficção está prestes a transformar-se em realidade – mas sem a intervenção de nenhuma pessoa.

É evidente que algo precisa ser feito. E logo. Sair mais cedo de casa não ameniza o problema; pois enfrentamos congestionamentos em qualquer horário. Uma simples garoa é o suficiente para ocasionar pontos de lentidão e refletir negativamente no trânsito.

Se mudar de ares não é uma opção viável, então devemos nos habituar com mais esse contratempo da vida moderna. É assustador pensar no tempo que perdemos dentro de um automóvel...

Em relação à qualidade do serviço oferecido, o preço da passagem é caríssimo. O povo se vê compelido a utilizar um transporte público precário, que o conduz como sardinha em lata (ou gado no curral). Ao substituir a frota antiga, os empresários colocam nas ruas ônibus com menos assentos. E vocês sabem o motivo? A lógica é a seguinte: com poucos bancos, mais pessoas viajam em pé.

Em São Paulo, a falta de investimentos no setor acarretou o caos da atualidade. Só para compararmos, a Cidade do México – que iniciou a construção do metrô na mesma época da capital paulista – possui mais que o dobro de trilhos construídos. Os políticos contentam-se em incentivar a aquisição de veículos.

Enquanto uma alternativa satisfatória não é apresentada, a população continua tirando o carro na garagem. Mas como resolveremos a questão se os próprios políticos não utilizam o transporte coletivo? A individualidade ainda prevalece no trânsito brasileiro. Vemos, todos os dias, uma multidão de automóveis com o motorista sozinho ao volante.

O rodízio permanente tornou-se uma medida imprescindível. E do jeito que as coisas vão, os próximos passos serão implantar o pedágio urbano (medida já adotada em Londres) e também proibir o estacionamento nas vias.

Em Paris, uma campanha – bem sucedida – foi criada para estimular o uso de bicicletas. Iniciativas como essa engatinham por aqui. Quem arrisca trocar seu veículo por uma bicicleta e ser vítima da falta de sinalização, de ruas esburacadas e de motoristas irresponsáveis? A cidade de São Paulo precisa ser repensada como um todo. O martírio dos moradores da periferia é enfrentar horas de trânsito carregado – sem contar as greves de funcionários das companhias de ônibus e da CPTM, as manifestações populares nas vias mais movimentadas e as panes do metrô – em direção ao centro, para chegar ao trabalho.

Não existem inocentes. Tanto pedestres quanto motoristas contribuem com esta situação calamitosa. Muitos atropelamentos são causados pela desatenção dos primeiros, que insistem em não atravessar na faixa. E o que falar dos motociclistas? Eles arrancam espelhos retrovisores dos carros, seguem na contramão, trafegam nas calçadas e entre as faixas... A contabilidade de motoqueiros mortos não para de aumentar.

O automóvel em alta velocidade transmite uma falsa sensação de poder ao condutor. Consequentemente, as ruas transformam-se em verdadeiros campos de batalha. Se juntarmos a isso a poluição (ambiental e sonora, com buzinas incessantes soando), a imprudência (dirigir embriagado, não utilizar o cinto de segurança, conversar ao celular) e nossa pressa injustificada, temos um quadro pavoroso. Quantas brigas e acidentes poderiam ser evitados?

A propósito, o primeiro engarrafamento de São Paulo completará 100 anos em breve. No dia 12 de setembro de 1911, a inauguração do Teatro Municipal paralisou o centro da cidade. Leia mais sobre este fato histórico aqui.

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